Seguidores do Alcorão e teóricos modernos divergem em relação ao poder de interpretação dos sonhos.

Dando seguimento a nossa série de posts sobre como as religiões se relacionam com os sonhos, hoje vamos falar sobre o islamismo. Shaykh Hamid Waqar, do Centro Cultural Imam Hussein, no Rio de Janeiro (RJ), explica que acadêmicos confiáveis no mundo ocidental não acreditam que os sonhos tenham informações sobre o futuro, sobre o passado ou que haja qualquer comunicação através deles. Porém, ao contrário dessa perspectiva científica, o Alcorão cita sonhos, como, do Abraão e de sacrificar seu filho Ismael, os sonhos do profeta José e seus companheiros, e os do profeta Muhammad em relação à conquista de Meca.

Portanto, para o Alcorão, existem sonhos que trazem a informações. Há os dos profetas, chamados de ‘sonhos claros’, que não precisam de interpretação; e há o ‘sonho incerto’, aquele que é alterado pela alma e, por isso, precisa ser interpretado para restaurá-lo a forma mental do seu verdadeiro estado. Porém, isso não vale para todos os sonhos: a maioria deles são influenciados por meio físico ou estado mental e não ajudam na sua jornada para Allah.

Entre os versículos do Alcorão que se referem aos sonhos, Shaykh cita: "Ele é Quem vos recolhe, durante o sono..." (Alcorão, 6:60) ou: "Allah recolhe as almas, no momento da morte e, dos que não morreram, ainda, (recolhe) durante o sono. Ele retêm aqueles cujas mortes têm decretadas, e deixa em liberdade outros, até um término prefixado.... "(Alcorão, 39:42).

Existe uma série de estudos sobre a interpretação dos sonhos islâmicos, incluindo livros que apresentam significados para certos aspectos de um sonho. Shaykh cita três exemplos:

• a morte significa fracasso religioso, corrupção e crescente status do mundo;

• quando alguém vê uma pessoa lavando algo, isso denota que essa pessoa é justa, mística e espiritual;

• se alguém vê uma cobra, representa a inimizade de um de seus sogros, filho ou alguém próximo.

O islamismo também acredita que há algumas entidades que conseguem controlar os sonhos. É o caso dos gênios, entre os quais está Satanás: ele pode entrar nos sonhos para enganar. É por isso que interpretar os sonhos pode ser perigoso. Como Shaykh explica, digamos que no sonho há uma pessoa lavando roupas, ela seria considerada justa e o sonhador poderia querer aprender com ela. Mas e se for Satanás quem a colocou em seu sonho, para enganá-lo? Devemos confiar ou não na pessoa?

Resumidamente, podemos entender que, para o islamismo, muitos sonhos não são uma orientação – mas sim o simples reflexo do estado físico ou mental do sonhador. Porém, quando tem um significado real, não deixa dúvidas, é claro e demanda interpretação. Se o intérprete não for a pessoa abençoada com o talento de interpretar (sonhos) ou o faz apenas usando as informações que estão disponíveis em livros de interpretação e velhos contos, não terá capacidade de diferenciar um verdadeiro sonho daquele que um gênio plantou para enganar. E, mesmo que seja um sonho verdadeiro, a interpretação será rasa ou incompleta quando se ater a simplicidade de que, por exemplo, água significa algo bom e cobra significa algo ruim. É por isso que, entre os islâmicos, os intérpretes são raros e apenas pessoas que trazem um tipo especial de estrutura mental são hábeis.

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