“Para um adolescente, o despertador às 7h é o mesmo que às 5h para uma pessoa aos 50”, defende o neurocientista Russel Foster. Para ele, a necessidade fisiológica por mais horas de repouso tem relação com alterações hormonais da puberdade.

No tempo do ensino médio provavelmente você sentiu aquele sono incontrolável durante as aulas de Química? Essa sonolência acima da média dos adolescentes tem sim relação com as distrações do mundo contemporâneo mas também com o hábito que eles têm de ir para cama tarde. Só que existe uma outra explicação: a biológica. O neurocientista Russel Foster, professor da Universidade de Oxford, em recente artigo na New Scientist, revelou pesquisas que comprovam que os jovens necessitam de mais tempo de sono em comparação com os adultos para se recomporem. O assunto está tão em alta no Reino Unido e nos Estados Unidos, já que algumas escolas adiaram o início de suas atividades para mais tarde pela manhã e, com isso, os alunos conseguem dormir mais e alcançar melhores resultados acadêmicos.

Nos EUA, onde o sistema educacional prevê horários diferentes para a entrada dos alunos, uma pesquisa da Universidade de Minessota apontou que alunos que estudam em horários mais flexíveis também apresentam resultados melhores, além de frequentarem mais as aulas e cochilarem menos em classe. Os dados indicam ainda que estes jovens são menos deprimidos que os outros, com déficit de sono.

Russel garante que esses resultados estão vinculados com a própria biologia humana. “As horas de sono dos homens, como a de outros mamíferos, mudam conforme a idade. Assim que a puberdade começa, a hora de dormir e acordar é mais tarde”, afirma o neurocientista, que ressalta que essa tendência continua até os 19,5 para as mulheres e 21 para os homens. “Na média, isso significa que, para um adolescente, o despertador às 7h é o mesmo que às 5h para uma pessoa aos 50”, exemplifica. Essa mudança tem relação com alterações hormonais da puberdade e com a diminuição dos hormônios à medida que o tempo passa rumo à idade adulta.

Foster cita um estudo da pesquisadora Mary Carskadon, da Brown University, pioneira na análise do sono dos adolescentes. A professora assegura que os jovens precisam de 9 horas de sono por noite para manter o grau de alerta necessário para um dia de estudo, ao passo que é "normal" que eles durmam apenas 5 horas por noite, sobretudo por conta dos estímulos dos eletrônicos. Por isso, para Foster, é preciso entender a fisiologia dos jovens para ajudá-los a terem melhores resultados na escola.

Necessidade biológica - Dormir é uma necessidade biológica fundamental, que envolve criatividade, produtividade, humor e a habilidade de interagir com os outros. O uso desmedido de TV, computador, videogame e celulares pouco antes de dormir faz com que as pessoas - de qualquer coisa - prolonguem seu estado de alerta e demorem mais a cair no sono. Com repouso de pior qualidade, tendem a ter problemas de concentração e memória, estresse, ou até mesmo apresentar impulsividade, falta de empatia e menos senso de humor.

A perda de sono também é associada a mudanças metabólicas. “Pesquisas têm mostrado que a regulação de glicose no sangue foi muito prejudicada em jovens que dormiam até 4 horas por noite por 6 noites seguidas. Nesses casos, o nível de insulina foi comparável com estágios iniciais de diabetes”, esclarece o neurocientista. Como se não bastasse, a privação do sono também está associada à obesidade e à hipertensão. Enfim, fique de olho no sono do seu adolescente. Se vai varar a noite jogando no fim de semana, vai precisar dormir muito no dia seguinte. Ou então dormir mais cedo para compensar caso tenha de acordar cedo.

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